quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ao cair da indiferença...

Sentada no canto do asfalto de uma das calçadas da rua, Maria lia um pequeno encarte, com certo interesse. Era um simples anúncio, porém curioso. O bairro onde morava ia presentear os seus moradores com uma livraria. A garota ficou tão surpreendida com a notícia, que procurou manter os seus vizinhos em alerta sobre o novo empreendimento. Ela era apaixonada por literatura, o que refletia no seu gosto por obras. Foi oradora de várias turmas de graduação, inclusive da própria. O seu timbre de voz era um dom, mais visto como um privilégio. Poucos tinham a capacidade de exercer tamanho poder vocal como aquela menina. Sua interpretação provocava um alvoroço de idéias nas mentes que a processavam. A capacidade de ir além só era possível pela pureza que se arrastava nas viagens um tanto vagas... Uma semana foi mais do que o bastante para que Maria conseguisse espalhar a novidade por toda a vizinhança. Um belo dia, em uma quarta-feira, tão comum como outro qualquer, Maria descia às escadas de acesso ao trem, quando esbarrou em um rapaz.

J: Você deveria aprender a olhar por onde anda senhorita.
Maria: Oh, desculpe! Perdão! Não foi a minha intenção. Juro! Desculpa mesmo.
J: O garoto era alto, magro, com cabelos encaracolados. Vestido em uma camisa social azul cor do céu, e uma calça jeans escuro, com um tênis branco. Trazia consigo o Palm Top. Caminhava pelo mesmo espaço que Maria, mas a diferença era a ferramenta da informação que o atualizava naquele instante. O aparelho em questão havia passado à direção correta acerca da inauguração do ambiente. A diferença gritante entre os dois se dava pelo modernismo abusado de Jorge, e o jeito ‘’fã de carteirinha’’ dos grandes salões literários, assim como Maria.

- Não precisa mais se desculpar. Chega de desculpas! Chega! Eu só preciso que você me dê licença para que eu possa passar. Será que eu posso?

Maria: Ela estava perplexa com a frieza do rapaz, mas mesmo assim não se deu por vencida, e, foi atrás de entender o que estaria por trás de tanto mau-humor. Ela estava disposta a reverter o quadro. Era uma missão difícil, mas não impossível. Pensou.

- Não antes de escutar o que eu tenho a dizer.

J: Garota, eu estou tentando manter o nível maior de educação contigo, mas desse jeito você não coopera.

Maria: Olha... Você está na minha área. Certo? Nunca te vi por aqui antes. Então, nada mais interessante que chegar a alguém novo na cidade, e perguntar o que ele está achando de todo esse lugar. Além disso, eu ia apenas comunicar que em menos de duas horas vai rolar a inauguração de uma casa de livros.

J: Uma casa de livros? Perguntou interessado.

Maria: Sim. Qual o seu nome?

J: O meu nome é Jorge Passargo. E o seu?

Maria: Maria José Scolts. Estudante de Filosofia, e pós-graduada em Psicologia.
Jorge: Interessante...

A conversa foi de uma duração incrível. Dois seres opostos se puseram a debater sobre opiniões, com base nas teorias datadas nos livros. O que mais chamou a atenção foi o fato da compreensão, e até mesmo da concordância, recair sobre os dois. A indiferença não existe no papel, mas na condição de acontecer. Apesar de não ser algo muito agradável, traz uma bagagem caprichada de lições. Muitas vezes tropeçamos em nossas próprias palavras, tidas como armadilhas, a fim de aprender que não se deve fazer com o outro o que não gostaríamos que fosse feito para com nós. É bem certo que seja um antigo clichê. O que não impede de ser seguido ao pé da letra. Ser indiferente não nomeia uma personalidade. A indiferença é algo abominável ao ser humano atual. O mundo e as pessoas que nele estão inseridas precisam unir o carinho, a compreensão, e o mérito provindo de um outro humano. Um espelho, talvez. Assim como Maria, não podemos permitir que as pessoas, seres criados à nossa imagem e semelhança, saiam na frente de uma disputa sem premiação. Apenas perda. Ser diferente implica em um esforço sobre-humano de abandonar o ego que tanto aflige, para ir à busca da solução. Indiferença é o sentimento que afeta o individuo que não acreditou ou não acredita em seu potencial promissor. Portanto, não se permita ser afetado pelo igualitário sistema social. Respeite as regras, faça as suas, e reúna as peças para uma nova partida. Makes a difference!

Um comentário:

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